Graça e paz irmãos, recebemos os relatos da família Nascimento sobre os desafios que tiveram que enfrentar nas últimas semanas por terem sido infectados pela COVID-19.
Que com o testemunho deles possamos aprendermos sobre como o Senhor, em sua infinita misericórdia, se manifesta graciosamente sobre seus filhos.
Segue abaixo na íntegra o relato na Nathaly, esposa do Seginho:
NOSSA FAMÍLIA COM O COVID-19
Há 4 meses estamos isolados na base da missão, junto com mais 40 pessoas, 12 famílias que tiveram que sair das aldeias em que trabalham para proteger os indígenas da pandemia. No mês de julho, alguns rumores alegraram nosso coração com a possibilidade de voltamos para casa no mês de agosto. Vários critérios seriam observados, testes realizados para fazer isso com segurança. Entretanto, na última semana de julho, em um final de semana, 4 famílias começaram apresentar os sintomas do corona-vírus. Após 4 dias, foi a vez da nossa família. Os sintomas começaram com diarréia, cansaço, dor de cabeça e dor de garganta. Um médico já estava acompanhando e medicando os outros missionários gratuitamente, 2 casos já haviam sido confirmados então decidimos iniciar o coquetel de remédios, eu, o Serginho e a Julia, porque os outros estavam assintomáticos. Logo de cara percebemos que além dos sintomas da doença, teríamos que lidar também com efeitos colaterais das medicações. Aguentamos por 6 dias consecutivos, todo cansaço dor, diarréia, mal estar, e efeitos colaterais tentando conciliar com as tarefas do dia a dia (cuidar de 4 crianças, alimentá-los, manter as roupas limpas, as crianças banhadas e uma organização básica). No terceiro dia do tratamento, tanto eu como o meu marido, já não conseguíamos dormir. Assim como muitas pessoas, sofri com a insônia (um dos efeitos adversos) e por 3 dias consecutivos não fechei os olhos por um minuto. As pessoas me diziam que era muito importante o repouso para a recuperação e eu não imaginava como isso era possível. Eu olhava para o lado, para a única pessoa que podia me socorrer no momento, e meu marido também estava prostrado e sem forças. Mesmo assim, a gente se levantava e andava a segunda milha, a terceira, a quarta. Na minha cabeça eu ficava pensando quantos milhas eu aguentaria a mais. Nunca tínhamos adoecidos os dois ao mesmo tempo, de forma severa, com 4 crianças para cuidar. Olhávamos para o lado e víamos nossos colegas na mesma situação. Essa era nossa situação até o momento do SURTO.
PARTE 2 - O MEU SURTO
No sábado, o sexto dia da doença, 3 noites sem dormir, tentei preparar um almoço saudável para nossa família. Pedi para o meu marido estender pelo menos as roupas antes do almoço. A casa estava o caos, o banheiro uma sujeira, tudo espalhado, literalmente no modo sobrevivência. Eu estava sentindo muito tontura, fiz várias tarefas da cozinha sentada e de repente meu marido entra em casa e diz que não estava se sentindo bem e precisava deitar. Fui lá fora, meio cambaleando e tentei terminar de estender a roupa. Pedro já estava chorando de fome. Então sentei na mesa para alimentá-lo. Chamei o Sé para comer e ele disse que não conseguia. Eu coloquei duas colheradas e percebi que ia desmaiar, tudo estava ficando escuro. Tirei o Pedro do cadeirão e deitei no chão com ele ao meu lado. Meu marido já estava estirado na sala. Começamos a chamar a Julia que estava brincando lá fora. Quando ela entrou eu pedi para ela chamar algum adulto. Nessa hora minhas extremidades estavam geladas, formigando inclusive a língua e eu sentia que ia apagar. Mas eu não podia apagar, porque talvez o Sé tb apagasse. Nisso começou a chegar nossos colegas da casa ao lado. Me questionaram sobre o que eu achava que era. Como enfermeira pensei que poderia ser desidratação, por causa da diarréia e amamentação. Eles fizeram soro oral, trouxeram coca cola e eu bebi avidamente querendo melhorar. Mediram a nossa pressão e saturação, estava normal. Então pensei em hipoglicemia (eu não havia comido nada, desde a banana do café da manhã por causa dos enjôos dos remédios). Tentamos medir a glicemia mas o aparelho não funcionou. Outros colegas assumiram as crianças, dividiram na casa dos infectados e estavam dando almoço para eles, inclusive o bebê. Meu marido estava se sentindo um pouco melhor e sem formigamento. Então alguém me perguntou, Nath você quer ir no hospital? Um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente: O hospital deve estar um caos! Quem vai cuidar das crianças nesse tempo? O Pedro precisa mamar daqui uma hora? O Serginho está sem forças para levantar? A hipoglicemia pode causar danos irreversíveis no cérebro! Nessa hora, aceitei a proposta.
PARTE 3 - NO HOSPITAL PARTICULAR
Um colega nosso, também com covid, me levou para o hospital particular do nosso plano de saúde. Quando chegamos, me deixaram entrar logo por causa dos sintomas. Sentei numa cadeira no corredor, mediram minha pressão e glicemia, tudo normal. Fiquei mais tranquila, não era hipoglicemia. A segunda hipótese seria mesmo a desidratação, falta de eletrólitos. Minha ficha foi colocada em cima do balcão, por baixo de outros 10 papéis. O formigamento continuava, tudo gelado e tremendo. Aguardamos 40 minutos, pedimos um soro, mas precisávamos da prescrição médica. Todos os médicos envolvidos em alguma emergência. Um homem havia cortado o dedo em um cortador de grama, vários casos de covid grave, uma pancreatite aguda do meu lado e por fim vi um rosto conhecido, um pai angustiado aguardando um médico avaliar seu filho de 3 anos com um possível apêndice supurado. Tudo junto e misturado no mesmo local. Percebi que o meu caso não era prioridade, pedi para cancelarem minha ficha e disse que ia me hidratar em casa. Passei na farmácia comprei mais soro e tomei. Após 2 horas, nenhum dos sintomas desapareceram. Decidi ligar para minha irmã que é médica e contar o que estava acontecendo. Não queria assustá-los sem necessidade, mas precisava da opinião dela. Ela me disse que alguns eletrólitos como potássio eram muito difíceis de ser repostos por via oral, também me falou das consequências do déficit dele para o coração e todos os outros problemas envolvidos nessa situação. Me aconselhou a voltar ao hospital e não sair de lá até tomar uma bolsa de soro específica para isso. Comuniquei meu marido, que continuava bem mal ainda, pedi ajuda para os colegas olharem as crianças e outra missionária (que já tinha tido covid) me levou até o hospital novamente. Decidimos ir para o hospital público do estado, pois ele estavam mais preparados para a pandemia.
PARTE 4 - NO HOSPITAL PÚBLICO
Antes de sair tentei amamentar o Pedro. O leite demorou a descer e ele não quis mamar. Sai mesmo assim e pedi pro meu marido tentar dar a mamadeira mais tarde (apesar dele nunca ter tomado leite assim). No hospital, a princípio eles não queriam me aceitar porque só estavam tratando casos moderados e graves do covid. Eu não tinha febre, nem falta de ar. Porém, o médico se compadeceu de mim, quando disse que era mãe de 4 filhos e me atendeu. Entrei sozinha. Após 1 hora, sentei na cadeira, colheram exame de sangue e enfim recebi a tão esperada bolsa de soro. Tudo continuava formigando, muita fraqueza e tremor. Após 5 minutos do procedimento, todos os sintomas sumiram. Achei muito estranho. O soro demoraria 2h para correr. Desidratação não se corrige em 5 minutos. Fiquei preocupada, mas sem nenhuma hipótese diagnóstica. Observei ao redor. A exata definição do caos. No corredor, pacientes graves, infectados, perna amputada, grávidas desfalecendo, macas passando. Foram as duas horas mais longas da minha vida. Olhava o relógio o tempo todo. Pensava nas crianças, na mamada do Pedrinho, no Sé desfalecendo. Resolvi ligar para saber como estavam as coisas. Meu marido atendeu com uma voz moribunda, o Pedro estava chorando aos berros ao fundo e ele me disse que ele não aceitou a mamadeira e não queria cochilar. Pedi pra ele tentar andar com o carrinho lá fora para embalar ele. Ele disse que não conseguia mas ia tentar pedir para alguém. Fiquei angustiada e decidi não esperar a bolsa acabar. Eu já estava bem. A enfermeira atendeu meu pedido, aliás tinha muitos outros casos graves para ela atender. Peguei o resultado do exame de sangue, mostrei pro médico, tudo normal. Voltei pra casa, já era final da tarde, dei banho nas 4 crianças, esquentamos o jantar e comemos. Deixei as crianças vendo um desenho, fui amamentar o Pedro e colocá-lo para dormir. Enquanto estava deitada com ele, suprindo suas necessidades, grata por ter voltado para casa, comecei a sentir calafrios, voltei a tremer e todas as extremidades começaram a formigar novamente.
PARTE 5 - O DIAGNÓSTICO REAL
Coloquei o Pedro para dormir e sai do quarto. O Sé estava lavando a louça. Eu estava tremendo. Sentei na cadeira e disse: Eu estou tendo uma crise nervosa. Ele olhou pra mim e falou: Nath, você não tem crises nervosas, são os sintomas da doença e efeitos dos remédios. Eu discordei e disse que já tinha certeza que era emocional. Ele não tava acreditando ainda e eu falei: Eu estou exausta, muito além do meu limite, 3 noites sem dormir e estou tendo uma crise de ansiedade. Ele se calou. Tentei ligar para minha irmã, ela não atendeu. Então liguei para a minha mãe. Eu não sabia para onde correr, não conseguia ver uma solução, não via uma luz no fim do túnel. Era somente o sexto dia da doença, várias pessoas me disseram que sentiram mal estar por 20 dias. Só de pensar nisso eu surtava. Eu tinha que dar conta de tudo, eu não podia desfalecer, eu só pensava nas crianças, no meu marido, na casa. Quem cuidaria de tudo, não temos família aqui, todos os colegas da missão doentes também, quem toparia vir cuidar de uma família de infectados? Eu não queria contaminar mais ninguém. Eu sabia que esse era o gatilho da minha crise, eu não tinha medo do covid, nem da morte. Eu tinha medo de ser internada e abandonar os 5 sozinhos. Contei tudo para minha mãe, ao mesmo tempo que o Sé falava com a mãe dele no quarto. Ele também estava no limite das forças, sabia que não daria conta. Na mesma hora, as duas falaram que viriam para cá ajudar no próximo voo. Nós dissemos que não, elas eram do grupo de risco. Minha irmã e minha cunhada falaram que elas poderiam vir. Nós não podíamos aceitar elas largarem a família delas, enfrentarem um aeroporto contaminado, chegar num estado com a saúde colapsada para simplesmente contraírem a doença assim que pisassem na nossa casa. Nesse momento as crianças continuavam assistindo um filme sem saber o que estava acontecendo. Para resumir, no final da conversa eles disseram: se vocês não vierem para cá, nós iremos para aí! Desligamos, oramos e conversamos. A família começou a pesquisar passagens para as duas hipóteses. Chegamos a uma conclusão.
PARTE 6 - A DECISÃO
Ligamos para a família e dissemos que nós aceitávamos ir para SP. Mas não sabíamos como. Eles prontamente falaram que iam dar um jeito. Passamos a madrugada pesquisando passagens. Os preços eram absurdos, 13 mil reais. Cada vez que entrávamos no site as coisas mudavam, apareciam outras passagens. Encontramos uma por 6 mil, o cartão da minha mãe travou e foi bloqueado. Achamos outra por 5.500, não tínhamos o limite para fazer a compra. Por fim, no meio da madrugada, encontramos outra por 6200 somente até Brasília, 3 dias depois. Compramos pela fé. No dia seguinte iríamos procurar o trecho Brasília/ SP. Pedi pro Serginho dormir, eu continuei em crise trêmula e formigando. Mas agora conseguia vislumbrar uma solução. Passei o restante da madrugada orando e lendo a Bíblia. Não entendia porque eu não conseguia me acalmar. Eu confiava em Deus sabia que Ele estava no controle, conhecia todas as passagens de conforto, lembrava da agonia dos salmistas, porém eu não conseguia me acalmar. Por que no fundo eu sabia que ainda faltavam 3 dias para a gente voar, e eu não tinha forças físicas para aguentar esses 3 dias. Então, no final da madrugada, percebi que precisava ferir meu orgulho e pedir ajuda. Meu problema não era só emocional, era físico também. Portanto eu precisava do CUIDADO PALPÁVEL DE DEUS. E só tinha uma forma de fazer isso: me expor, pedir ajuda. No final da madrugada escrevi uma mensagem no grupo da missão contando meu desespero, minha crise e pedindo ajuda. Na mesma hora algumas pessoas responderam. Outros que também lutavam com a insônia da doença. No dia seguinte, várias pessoas da missão apareceram. Uma deu café para as crianças, outra assumiu o Pedrinho, outro se disponibilizou para ajudar a guardar nossas coisas, limparam a sala e tudo mais. Contei para algumas pessoas da igreja também, e vários se disponibilizaram para cozinhar nos próximos dias. Eu me sentia muito fraca, impotente, exausta e doente. Agradeci a Deus por toda ajuda, mas como passar por isso, sem sobrecarregar os colegas? Como atender a necessidade das crianças de banho, cuidados, rotina, sono nos próximos 3 dias?
PARTE 7 - SOCORRO AMIGO
No domingo de manhã, enquanto todos se mobilizavam eu lembrei de um casal amigo nosso que tiveram covid há poucos meses. Eu precisava conversar com alguém que já tinha passado por isso, eu precisava saber como ela se sentiu. Fiz uma ligação para a Leila, acordei ela. Em poucos minutos expliquei o que estava sentindo ela nem perguntou mais. Disse que estava indo para a minha casa. Em 15 minutos, ela e o marido apareceram na missão. Eu estava deitada no sofá. Ela simplesmente falou: Nath eu sei o que vocês está passando, eu tive as mesmas crises e nós vamos te ajudar. Começou a arrumar a cozinha, lavar a louça, o Juninho encaixotou várias coisas com o Sé, tirou roupas do varal, dobraram tudo e por final falaram: nós vamos levar os seus três filhos maiores conosco, você vai ficar só com o Pedrinho. Fizeram as malinhas, as crianças pularam de alegria porque gostam muito deles e partiram. Eu achei que eles iriam dormir aquela noite e voltariam pela manhã. Eu só precisava de forças para aguentar os outros dois dias. Consegui descansar bastante nesse dia. A noite liguei para dar boa noite para as crianças, e perguntei que horas eles voltariam no outro dia. A Leila falou: vamos devolvê-los no dia da viagem, ou seja 3 noites depois. Fiquei preocupada com o casal mas ao mesmo tempo aliviada porque sabia que eles estariam em boas mãos e nós poderíamos descansar e organizar as coisas para a viagem. No dia seguinte, compramos a passagem Brasília/ SP e tinha um problema, teríamos que ficar uma noite inteira no aeroporto. Já tinha sido tão difícil aceitar viajar com corona, pensando nas pessoas que poderíamos infectar. Só topamos quando nos informaram que depois de 7 dias de sintomas, teoricamente, não estaríamos mais transmitindo e porque não temos sintomas respiratórios, tipo tosse, espirro e secreções. Mas ficar uma noite no aeroporto seria uma luta. Então, pedimos socorro novamente.
PARTE 8 - O CORPO DE CRISTO
Na mesma hora ligamos para a líder de missões da igreja presbiteriana de Brasília, a Ana Tereza. Uma igreja muito querida nossa. Perguntamos para ela se eles sabiam de algum lugar que poderíamos passar a noite com as crianças, sem ter contato com ninguém. Não queríamos ser hospedados por ninguém. Talvez uma sala da igreja ou algo do tipo. Na mesma hora ela disse que ia verificar e depois retornaria. Quando recebemos a ligação ela disse que já tinha arranjado uma van que nos buscaria no aeroporto (porque 6 pessoas e milhões de malas, só uma van mesmo). Levariam a gente para um hotel, e no dia seguinte nos deixariam no aeroporto. Quando desligamos ficamos emocionados. Estávamos vendo o CUIDADO PALPÁVEL DE DEUS. Também comunicamos nossa igreja em Santos e nosso pastor disse que providenciariam tudo que precisasse para nos buscar em SP e levar até Santos, nosso destino final. E foi nesse dia, depois de muitas noites de insônia, que eu e o Pedrinho (pela bondade do Senhor) dormimos 7 horas ininterruptas. Acordamos renovados, com os sintomas ainda da doença, mas sem nenhuma crise de ansiedade. Estava tudo encaminhado, as crianças bem cuidadas e eu só precisava fazer as malas. Tudo ficou mais leve e meu coração transbordante de gratidão. Porém, tive mais uma noite de insônia. Não sei até agora se isso é da doença ou dos remédios, só sei que me deixava exausta. O dia seguinte me arrastei para fazer nossas malas e guardar tudo. Ficava pensando em tudo que poderia dar errado ou ser esquecido. E graças a Deus muitas pessoas nos ajudaram nesse processo. Não deixei a casa do jeito que gostaria, não fiz tudo que planejava, mas reconhecia que eu estava no meu limite e precisava me cuidar. Internamente, me frustrava pensar que o retornar para aldeia estava cada vez mais distante e que mais uma vez nossos planos seriam mudados. Porém ao mesmo tempo lembrava de Eclesiastes e de que “há tempo para tudo”. Há 8 anos estamos servindo entre os povos indígenas do Brasil, cuidando e ministrando a Palavra. Talvez agora chegou o tempo de sermos cuidados e se recuperar desta doença.
PARTE 9 - A VIAGEM
De certo, esta foi a mais longa, cansativa e tensa viagem que já fizemos. Antes de sair tivemos uma conversa séria com as crianças, sobre tudo que poderíamos e não poderíamos fazer no aeroporto. Eles ouviram atentamente. A tarde partimos para Brasília e graças a Deus foi um voo tranquilo. Os maiores não dormiram, mais colaboraram bastante. A gente sentia muita dor de cabeça do covid, mas nenhum outro sintoma. Fomos recebidos no aeroporto e logo nos levaram para o hotel. Encontramos uma sacola de comidas no quarto, enviada por uma querida família de Brasília, demonstrando mais uma vez O CUIDADO PALPÁVEL DE DEUS. Não precisamos sair do quarto para nada, fomos supridos e descansamos. Ás 4h da manhã levantamos e continuamos nossa viagem rumo a São Paulo. Foi um voo um pouco mais tenso pois tinha uma conexão. Sair com as crianças do avião, todas as malas e correr pelo aeroporto para embarcar no outro não é tão simples quanto imaginamos. O Pedrinho sofreu bastante com a noite mal dormida e as sonecas interrompidas também. Mas enfim, as 11h da manhã chegamos no aeroporto de SP, com toda nossa família, malas e de pé (realmente duvidei muitas vezes se teria força para fazer essa viagem). Nossa igreja de Santos enviou uma van para nos buscar, mais uma sacola de lanchinhos enviada pela minha mãe e o tão esperado descanso. Todos nós estávamos exaustos, dormimos o percurso inteiro na van, esgotados. Chegamos na casa do meu pai, onde ficaremos isolados até o processo da doença terminar. Meu pai vai ficar na casa da irmã esses dias. Já temos exames agendados, algumas medicações para tomar e várias comidinhas no congelador. Nunca imaginamos que esse seria o destino de 2020, muito menos que seríamos derrubados pelo COVID-19. Esses não eram nossos planos, mas os planos de Deus.
PARTE 10 - CONCLUSÃO
Agora, deitada na rede, tomando o solzinho da manhã enquanto as crianças tomam café no sofá em frente a TV (tudo que eu não aceitaria se fosse alguns dias atrás) percebo que posso tirar algumas lições de tudo que aconteceu. Depois de muitos dias de insônia, doença e cansaço, decisões tomadas de último hora, finanças alteradas, planos frustrados e emocional abalado, vejo que o Senhor precisava tratar algumas áreas do meu coração.
1- CONTROLE: Desde que me tornei esposa e mãe, me acostumei a estar no controle da minha casa, no sentido das responsabilidades domésticas. Nunca dependi de ajuda externa (não porque acho errado, mas porque não existia essa opção). Morar na aldeia, longe da família, igreja, amigos, supermercado me ensinou a ser planejada e organizada para não precisar de nada externo. E nos últimos dias vi as coisas desabarem na minha frente, sem forças para conseguir resolver. Esse foi o primeiro baque, me senti incapaz de suprir as necessidades básicas do meus filhos. 2- DEPENDÊNCIA: O fato de estarmos no ministério há alguns anos nos ensinou a ser dependentes de Deus em muitas áreas. Sabemos que ele cuida do nosso sustento, dos nossos familiares que deixamos para trás, das nossas necessidades, do nosso futuro. Porém, até agora nunca tinha colocado em cheque a minha dependência a Deus em relação a minha casa, as tarefas do dia a dia, a vida cotidiana. Nunca tinha parado para pensar que é Ele que me faz levantar a cada manhã e enfrentar cada tarefa com força e alegria.
3- ORGULHO: Sempre tive o estilo mais prático, resolvido e independente. Poucas vezes na minha vida precisei pedir ajuda externa para realizar algo básico. O COVID me colocou em um posição desconhecida. Tive que reconhecer minhas fraquezas, meus limites e até minha fragilidade emocional, expondo assim a minha necessidade de ajuda. As vezes ficamos rogando a Deus por suporte e consolo, batalhando para não se expor, quando muitas vezes apenas devemos tornar nossas dificuldades conhecidas. Assim podemos experimentar o CUIDADO PALPÁVEL DE DEUS. Minha gratidão a todos aqueles que participaram desse processo, que foram os braços de Deus amparando nossa família nos últimos dias. FIM
O Ministério de Missões já entrou em contato com a família colocando nossa igreja à disposição e verificar de que forma podemos ajudá-los em alguma necessidade.
Motivos de oração:
- Agradecer a Deus pelo cuidado com a família em meio a todos os desafios enfrentados;
- Para que essa situação glorifique ao Senhor por meio do testemunho da família Nascimento;
- Para que todos tenham a saúde reestabelecida;